O planeta está acabando, os ricos estão indo para o espaço (infelizmente não no sentido figurado) e mais um ano está no final. A gente ainda tem que levantar para trabalhar de novo depois do recesso — isso para quem tem período de recesso, né.
(Para pular a contextualização política e ir direto para o planejamento, role o texto até a seção Como planejar 2022).
Atenção: o texto abaixo pode conter erros de digitação e quetais.
Background
Uma mente desconstruída pode estar atulhada
Pessoas que se importam tendem a acumular estresse. Falo por experiência própria e de observar os companheiros e companheiras.
Às vezes estamos tão focados em nos indignar com a injustiça do mundo que deixamos de lado o famoso autocuidado (que você sabe muito bem que é mais do que skin care, banho de cachoeira e manicure). Se nossa cabeça não estiver minimamente funcional, não tem como a gente lidar com as emoções negativas.
Bem, eu não acredito que sentir essas coisas seja necessariamente ruim. Elas fazem parte da experiência humana. Mas senti-las não quer dizer que estamos lidando com elas.Pode ser que deixemos de lado as coisas positivas, ofuscadas pelo mundo acabado pelo capitalismo. Pode ser a culpa individual. Eu me sinto culpada quando conquisto alguma coisa boa, porque parece injusto conseguir qualquer coisa de bom em um mundo tão desigual.
Se desconstruir, mas viver em entulhos, não é legal. É necessário construir algo novo no espaço que foi destruído. Algo melhor pensado, melhor planejado. Que se alinhe com os novos ideais da pessoa que resta, transformada, entre os escombros.
Planejar é imaginar um futuro possível.
Por que planejar?
Quando falamos de planejamento, o papo pode facilmente tomar um aspecto neoliberal se a gente focar em produtividade ou apenas objetivos individuais rasos. Eu não preciso pensar apenas em objetivos pessoais, é fácil cair nessa armadilha. Mas tomando a postura de pensar também no coletivo, eu penso em um futuro melhor para mim e para o mundo.
O que eu aprendi durante esses anos, é que vale mais a pena tomar uma postura de construir um futuro melhor para todos e não apenas para mim.
Com o tempo, unindo prática com teoria, e testando vários métodos — GTD, agile, Eisenhower matrix etc etc — eu acabei criando um planejamento que funciona para os meus propósitos pessoais e coletivos.
Acho que a chave nessa experiência é não se abater quando algo não funciona. Como a vida, se frustrar faz parte. E entender porquê algo não funcionou pode ser bom para adaptar o processo conforme a nossa própria necessidade.
Como planejar 2022
O que eu vim mostrar aqui é um jeito que está funcionando ✨para mim✨. E que me deixa mais feliz com a atividade de planejar.
*Importante: todo ano eu faço ajustes no método e vou continuar fazendo para sempre.
Então, prepare 2-3 folhas de papel e uma caneta e vamos lá!
1) Compromissos fixos
Eu sempre começo com uma lista de compromissos fixos; datas que eu não posso mudar de jeito nenhum.
Por exemplo: entregas que já estão marcadas para o próximo ano, eventos, viagens, video calls, visitas, aniversários, feriados, datas fixas de projetos e coisas assim.
São compromissos que já estão marcados para acontecer, mesmo que para alguns eu ainda não tenha detalhes mais específico como ‘onde’ ou ‘que horas’. É tipo um “save the date” pessoal.
Compromissos fixos (Exemplo fictício 1)
Depois de listar essas datas todas no papel, eu reviso para garantir que não esqueci de nada. Então marco todas como eventos no calendário do google. Com alarmes. Dependendo do tipo de compromisso, eu adiciono lembretes (às vezes com 1 dia ou até 1 mês de antecedência, dependendo do assunto).
2) Coisas que eu quero começar, continuar ou parar
Só aqui eu vou olhar um pouco para o presente e o passado recente. A estratégia é pensar em tudo o que você ativamente faz. Qualquer atividade que lhe tome tempo, que você produza alguma coisa, se desloque de um lugar a outro para fazer etc.
Eu listo num papel em branco todas as coisas que eu faço, todas as atividades em que estou envolvida, projetos, missões. Aqui vale tudo. Sem separar o que é do trabalho, faculdade, militância e hobbies.
Rotina e projetos (Exemplo fictício 2)
Depois disso, eu classifico cada uma delas com a periodicidade (diária, semanal, quinzenal, mensal ou pontual), seguida da opção “individual” ou “coletiva”.
Rotina e projetos (Exemplo fictício 3)
Individual: tudo o que só dá para fazer sozinho. Ou tem que ser feito sozinho.
Coletivo: coisas que são feitas em um grupo e/ou não dependem apenas de uma pessoa para acontecerem.
No exemplo fictício, o item “podcast com o pessoal do grupo x” pode ser quinzenal e coletivo, por exemplo, já que o podcast é feito por um grupo de pessoas, a cada 15 dias.
Depois de pensar em absolutamente TODOS os meus projetos e compromissos, eu começo a pensar em coisas que eu gostaria de fazer.
Coisas que gostaria de fazer (Exemplo fictício 4)
Coloco as listas lado a lado para avaliar as coisas que eu quero:
parar de fazer
continuar fazendo
começar a fazer.
O último passo é entender como isso tudo se distribui pela rotina, o quão importante elas são para o futuro e se o retorno é financeiro, social, intelectual ou emocional (pode ser mais de um inclusive).
Risque da lista as coisas que você vai dispensar primeiro e planeje como fazer isso (você precisa comunicar a alguém? Quais as implicações individuais e coletivas dessa partida? Tem algo que você pode fazer para tornar o processo mais suave para você e para os outros? etc).
Faça uma lista nova unindo as coisas que você vai continuar fazendo com as coisas novas que você quer começar.
Pergunta-chave: Para quais dessas coisas eu tenho disponibilidade emocional, física e mental?
Dica: se você já ouviu falar da Marie Kondo, pode aplicar o método dela por aqui também. Avalie atividade por atividade e se pergunte “isso me traz alegria?” ou ainda “de que forma isso está ajudando o mundo a ficar mais próximo do que eu queria que ele fosse?”.
3) A tabela final
Por fim, eu faço uma tabela final para distribuir meus projetos. Pego aquela minha nova lista e faço uma última classificação.
Pontual: projetos que duram de 1 dia a 3 meses.
Longo prazo: projetos que duram de 3 a 6 meses.
Contínuo: projetos que duram mais de 6 meses.
Como eu sempre digo, adapte esse esquema para o que funciona para você.
O planejamento (Exemplo fictício 5)
Eu uso essa tabela como meu planejamento anual de base. Retorno nele algumas vezes ao ano (com lembretes trimestrais no google calendar, para garantir que não vou esquecer) para ver como andam as coisas. Com ele, eu planejo as tarefas semanais e vou ajeitando o meu calendário. O truque é quebrar essas atividades grandes em pequenas tarefas de rotina ao longo do ano.
Nessa lógica, dá ter uma base para montar planner, agenda, bullet journal ou o diabo a quatro pelo ano inteiro.
No meu caso, me ajuda a manter o foco no que importa. E traz propósito para os dias em que eu simplesmente me sinto cansada demais para pensar e só me arrasto pelo calendário.
Nota: Nada disso é fixo. Eu me autorizo a mudar as coisas ao longo do caminho conforme eu sentir necessidade. Aprendi a não me sentir menor por tomar essa atitude. Afinal, o planejamento é meu. Ele deve servir a mim e ao futuro que eu estou imaginando para o mundo.
Para fazer a revolução, é bom estar minimamente bem da cabeça, do corpo e do coração.
bell hooks
Que descanse em paz.
Esse é meu vídeo favorito dela; uma atividade em grupo, acompanhada do seu amigo Samuel Delany. Faz parte de seminários sobre transgressão. Só tem em inglês, infelizmente. Mas quem puder ver só um pedacinho que seja, vale muito a pena.
Recomendações
“O capital deixou de lado os objetos físicos e virou um narrador, um contador de histórias, e se fez um produtor de significações. O capital se descobriu linguagem e se deu bem na sua nova encarnação. Bem a propósito, a velha oposição entre trabalho e linguagem se dissolveu, não existe mais."
Para entender como estamos fazendo hora extra para as grandes corporações sem nem sabermos, o excelente livro A superindústria do imaginário: Como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível, do Eugênio Bucci, é indispensável. E funciona como um presentão de natal para qualquer pessoa intrigada com o funcionamento do mundo.
O podcast Incêndio na Escrivaninha, projeto tocado por mim, Ana Rusche e Thiago A. Lage, deve lançar episódio novo por esses dias.
Enquanto isso, você pode escutar todos os episódios aqui.
✨✨✨✨✨✨✨✨
Essa é a última newsletter oficial do ano.
Se acontecer alguma coisa muito louca, eu mando uma cartinha extraordinária para vocês.
Obs 1: comecei a ver aquele seriado This is us. Não estava preparada para encher uma piscina de 1000 litros de choro a cada episódio. Como pode? Por que vocês não me avisaram?
Obs 2: eu estou com a cabeça bem cansada, espero que o texto de hoje tenha saído minimamente compreensível. É por conta desse cansaço que estou me recolhendo e voltando para conversar aqui só ano que vem.
Nos vemos em 2022.
…
beijos, abraços, feliz natal e toda forma de amor.
vanessa guedes.
Sent from my tamagotchi