Quem mora fora do Brasil também vota. Embora nós, cidadãos brasileiros no exterior, só possamos votar para presidente.
As eleições acontecem dentro de todas as embaixadas e em alguns consulados, das 8 às 17h do horário local. Então, sim, isso significa que a votação começa oficialmente muito antes de sequer abrirem as seções no próprio Brasil. Eu mesma, que moro na Suécia, posso votar à 8h da manhã aqui; quando é apenas 3 da madrugada no Brasil.
Não é interessante a democracia?
Em 2018 fui mesária pela primeira vez, aqui em terras gringas mesmo. No próximo domingo, vou repetir a dose.
Muita gente simplesmente me dá os pesâmes quando fica sabendo que fui convocada. Sempre rola uma surpresa quando conto que nunca fui exatamente convocada: eu me voluntariei. Em 2018 e em 2022.
Por que eu me sentiria triste em poder participar ativamente do processo político mais importante do meu próprio país?
Dj de democracia
Tem que acordar cedo, sim. E trabalha-se muito. Mesários chegam pelo menos 1 hora antes de abrir a votação. Há uma série de procedimentos e formalidades que precisamos fazer para assegurar o processo de eleição. Entre eles, uma série de regras para conferir o posicionamento dos móveis dentro da seção eleitoral, um jeito específico para organizar cabos da urna, princípios de acessibilidade, materiais para conferir e uma infinidade de detalhes para garantir que tudo está dentro da lei. Inclusive, nossos nomes ficam registrados como responsáveis pela urna da zona eleitoral onde trabalhamos. É um compromisso enorme.
Para mim, pessoalmente, faz bem trabalhar com as mãos e com pessoas - eu que trabalho só no computador há uma década, em profissões muito solitárias, sinto-me, de repente, presente.
Também sempre tive curiosidade em saber como garante-se a integridade da votação, como funciona para abrir e fechar uma urna etc. Qual seria a melhor forma de aprender tudo isso se não participando do processo?
De vez em quando alguém brota questionando sobre a confiabilidade do voto eletrônico. Eu sempre pergunto: você já pensou em ser mesário para ver de perto? Claro que a resposta é sempre “não”. Vemos aí o quão realmente preocupadas com a democracia estão essas pessoas.
Ser mésaria no exterior me proporcionou momentos únicos de interação com todo tipo de brasileiro que mora na gringa. Por exemplo, adolescentes que nasceram e viveram a vida toda fora do Brasil, mas são legal e culturalmente brasileiros (ou seja, filhos de pai ou mãe nativos). Vê-los entrar em contato com o processo de voto eletrônico pela primeira vez é bem bonito. Lembrando que o Brasil é o maior pioneiro em voto eletrônico no planeta. Nenhum país de primeiro mundo sequer tem um sistema tão sofisticado quanto o nosso.
Devo dizer que foi minha amiga Ana, da newsletter Anacronista, quem começou com essa história de “DJ da democracia”. Não sei se veio de um meme, mas o nome me pegou. Realmente, todo mundo envolvido em uma seção eleitoral é um pouco DJ. Tem que prestar atenção no humor do público, lidar com todo tipo de situação bizarra, mas também tem aquele prazer em estar envolvido no processo de uma grande festa.
Muita gente no Brasil vota no bairro onde cresceu. E no exterior, o dia da votação é um momento para encontrar outros brasileiros. A galera costuma combinar passeios, almoços… e coloca-se toda a fofoca em dia. É maravilhoso.
Celebrando a democracia
Desde que a democracia foi instituída no Brasil, ela foi interrompida duas vezes oficialmente. E pode ser interrompida de novo. Você já parou para pensar? A democracia está estável há apenas 33 anos. E talvez nunca tenha estado em um momento tão frágil quanto agora.
Votar é exercer esse direito, pelo qual tanta gente morreu no passado para garantir que você tenha o poder de escolher como quer que o Brasil avance no futuro.
Vou me abster de um discurso político mais explícito nessa pequena carta, não por medo de expressar minhas ideias, mas por segurança física mesmo. Nunca se sabe.
Mas vocês sabem minha opinião.
Trate bem os DJs da democracia que vão tocar na sua balada domingo.
Um recado para quem vota fora do nosso Brasilzão:
Em tempo
Dia 5 e 6 de novembro temos uma programação especial para quem lê e escreve newsletters no evento O texto e o tempo.
Eita! Cidades
A campanha do Catarse da Eita! Magazine está no ar! Atingimos 25% nessa primeira semana. Obrigada a todo mundo que tá ajudando e compartilhando! Lembrando que: temos cadernos-passaporte lindos de recompensa, sem contar um curso de escrita e muito mais. Olha lá.
E bora atingir os 100%!!!!
Live hoje, quinta-feira
Escrevi o posfácio do livro 45 dias no norte - Dois punks brasileiros sem dinheiro pela Europa, do meu amigo anarquista, escritor e professor Danilo Heitor. A narrativa de não-ficção conta as aventuras de dois punks pela Europa há dez anos atrás (acho que o título é meio auto-explicativo mesmo).
Foi um prazer ler as histórias e poder comentar sobre a aventura depois. A escrita do Danilo é agitada e bonita, dá uma sacudida no nosso dia. Hoje, nós três - eu, Danilo e o Allan de Freitas, companheiro do Danilo na viagem - vamos conversar ao vivo no Youtube durante o lançamento do livro.
Ativa o sininho! (Nunca achei que um dia diria essa frase haha).
Por hoje é só.
Beijos, abraços e toda a possibilidade de exercer seus direitos.
Vanessa Guedes.
Sent from my tamagotchi
Essa é a quarta vez que vou trabalhar de mesária e eu também fui voluntariamente dar meu nome. Pedi para sair na eleição municipal da pandemia, mas esse ano fiquei torrando o saco do cartório para eles me chamarem de volta.
Eu gosto mesmo de ser mesária. Acho interessante todo o processo eleitoral, poder participar e observar de perto e, de quebra, ainda ganho folgas para usar quando preciso no trabalho.
Só vejo vantagens!
Eu brinco que, na festa da democracia, eu sou a garçonete. rs
adorei essa de dj da democracia <3 ainda mais numa eleição tão importante como essa \o/