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May 11, 2022Liked by Vanessa Guedes

Antes da pandemia eu fazia um trabalho de reforço escolar em uma comunidade carente aqui em Araruama/RJ e sempre ficava pensando em que músicas e textos eu podia ler que valorizassem a pessoa negra. Mas ao mesmo tempo sempre tive receio de fazer isso e parecer que eu, uma branquela, esteve falando de alguma coisa que não me pertence. Vamos retomar o trabalho de reforço agora e estou ainda tentando ver como levar esse material e fazer uma troca com os jovens da comunidade. Quando você falou da culpa branca lembrei dessa questão. Não é minha única culpa pelo privilégio, mas é uma das quais eu tento fazer algo por ela.

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May 12, 2022Liked by Vanessa Guedes

Minha recomendação é a série Dickinson, da Apple+. É sobre a juventude da poetisa Emily Dickinson e mistura drama e humor, e faz uso de vários anacronismos para modernizar a narrativa. Tou na segunda de três temporadas (já está encerrada) e amando.

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May 12, 2022Liked by Vanessa Guedes

Adorei seu texto. Como mulher branca, me vejo enredada por muitas culpas. Meu pai, como homem branco, se recusa fortemente a aceitar qualquer culpa para si.

Adoraria que você comentasse sobre a protagonista do livro Parábola do Semeador, de Otavia Butler. Acho que ela é uma outra referência de personagem que pensa e age para além da culpa cristã e, ainda assim, mantém um referencial ético que a permite sobreviver e nutrir uma comunidade. Trata-se de uma jovem negra que vive num mundo apocalíptico (um futuro distópico que se passa em 2024-2027, assustadoramente próximo de nós) e sofre de uma síndrome de hiperempatia, que a faz compartilhar das dores e dos prazeres daqueles ao seu redor. É um livro muito interessante e que pode render ótimas reflexões em boas mãos como a sua!

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May 12, 2022Liked by Vanessa Guedes

oi Vanessa, belo texto!

eu me senti muito mobilizado pelo seu incômodo com as narrativas comuns nesse contexto da segunda guerra. de alguma forma o seu incômodo me incomodou: como pode um filme ter que ser uma leitura precisa de um evento histórico tão complexo? e aí, pelo que vc descreve de O Último Metrô (e eu não tendo visto o filme), fiquei pensando o quanto a narrativa é sobre outra coisa sendo o nazismo um pano de fundo.

no fim das contas... pensando nesses filmes clichês de segunda guerra, também sinto que são sobre outra coisa, mas com a historicidade como contexto. e aí talvez não faça sentido mesmo retratar uma coisa tão complexa quando o interesse é falar de heroísmo, vingança, tragédia familiar.

ao mesmo tempo me parece "uma aventura" pretender falar de nazismo numa obra tão limitada, um arroubo artístico. e talvez toda obra fictícia que se proponha esse contexto histórico falhe em retratar o contexto com exatidão por estar acompanhando um grupo limitado de pessoas a partir de seu ponto de vista.

é um romance, não um documentário afinal...

(acho que Tropa de Elite poderia ser um bom exemplo disso que digo. é um filme de vingança que tem uma polícia de extermínio pretensamente honesta como contexto, portanto incapaz de lidar profundamente com as hipocrisias que sustentam essa narrativa)

não que alguém deva gostar, ainda assim. eu vejo a razão de seu incômodo e faz todo sentido pra mim que te incomode, embora eu não compartilhe o sentimento :/

por último, me peguei pensando na franquia Jurassic Park (bem aleatório). acompanhando os filmes, há a história de um ricaço excêntrico, um laboratório de genética e acadêmicos de paleontologia. quando o parque dá errado, existe a necessidade de contratar mercenários que garantiriam que parte desse investimento não se perca (o que também dá errado pois não há preparo para lidar com o problema). o tempo passa, a situação é controlada com mais investimento e o parque reabre, agora com um interesse de pesquisa genética e um possível uso militar dessa tecnologia, que gera outras questões morais acerca dessa aventura excêntrica. e tudo isso é contado pelos olhos de personagens majoritariamente rasos e descartáveis. gosto do universo em que a história acontece, mais do que dos dramas pessoais que os filmes mostram e me questiono se o seu incômodo com filmes de segunda guerra parte de um lugar similar...

por fim, também acho que em geral, a humanidade não se pôs a refletir sobre o que aconteceu no nazifascismo. houve o regime, um conflito com outras potências e uma vez que esse regime maligno foi derrotado, não há o que pensar sobre o inimigo. eles só eram maus e foram derrotados pelo bem.

obrigado pela newsletter, é um prazer ler suas reflexões <3

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Oi Vanessa! Já tem alguns anos que venho num projeto pessoal de me livrar da culpa (essa culpa da filosofia cristã) e é libertador. Sei que cada pessoa tem suas questões mas sempre que vejo alguém sofrendo por culpa tenho vontade de sacudir e falar "isso é lavagem cerebral cristã!! transforme essa culpa em outra coisa que tenha serventia!" porque a culpa como a maioria de nós conhece nada mais é do que auto-punição, que não serve pra absolutamente nada. Como não dá pra mudar o passado, acho que a chave é o que você disse: encontrar saídas pra navegar os nossos privilégios ou aquilo que nos é dado sem (as vezes) merecimento. Consciência não precisa vir acompanhada de culpa. Enfim, na linha dos filmes que não tem culpa, eu recomendo Druk e A pior pessoa do mundo, dois filmes indicados ao oscar de melhor filme estrangeiro (em 2021 e 2022, respectivamente). São produzidos em países sem tanta influência cristã e é NOTÁVEL como os desfechos são livres de culpa (ou pelo menos dessa auto-punição do cristianismo). Bom fim de semana!

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