22 Comentários
Mai 2Gostado por Vanessa Guedes

Fico impressionada com sua destreza em dar conta de temas tão sensíveis. Gostei muito do texto todo.

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Nossa, eu me identifico tanto com esse texto. Desde 2019 eu venho fazendo essas reflexões, sobre trabalho, vocação, ganhar dinheiro fazendo o que se ama. Eu me formei em Direito e a minha escolha pelo curso foi bem prática: passar em um concurso para ter um bom salário e estabilidade. E logo no início da faculdade eu consegui isso, mas num cargo de nível médio. Eu queria passar em outros concursos melhores, por anos tentei magistratura, até que cansei da vida de estudos para concursos e parei (na verdade fui forçada a parar, por um burnaut). Mas o tanto que sofri com isso, me cobrando por ter parado de perseguir algo maior, por estar apenas num cargo de nível médio (ainda que seja um ótimo cargo, bom salário, 6 horas, estabilidade, tudo que buscava quando entrei na faculdade de Direito). Foi só recentemente que consegui parar de me sentir um fracasso, entender que eu estava tentando passar em outros concursos muito mais pra performar para os outros (o que para mim ainda tem uma questão de classe muito forte, já que venho de uma família pobre e fui a primeira a ascender pelo estudo). Hoje, minha relação com trabalho tem mudado a cada dia mais. Parei de romantizar, parei de achar que sucesso é só atingir o maior cargo dentro de sua área de formação. Passei a ver meu trabalho de forma bem pragmática: é algo que faço para garantir minha subsistência, para prover minha liberdade e independência financeiras. Com isso liberei tempo e energia para me dedicar a coisas que amo, mas sem a pressão de monetizar tudo.

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você falou de algo crucial aí também: os outros! o quanto a gente quer crescer para gente, de modo funcional, e o quanto queremos só provar pros outros que "demos certo"?

obrigada pelo depoimento, tão lúcido 🩷

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Nossa, Vanessa, que texto necessário. Também compartilho do pensamento que qualquer emprego é melhor do que nenhum.

Também vivi uma situação de muita vulnerabilidade quando me separei do meu ex-marido. Vivia com uma bolsa do mestrado de 1200 reais e com uma criança de 5 anos em casa. Ja fiquei numa situação que só tinha batata doce e arroz. Fazia mercado com medo, suando, fazendo contas, pq cada centavo fazia a diferença.

E foi passando por tudo isso que me senti adulta e hoje em dia uma pessoa capaz de suportar as dificuldades da vida. É uma merda, mas nasceu uma casca na minha pele.

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caraca!!!! obrigada por compartilhar. necessário.

🌸

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Mai 2Gostado por Vanessa Guedes

Descobri acidentalmente como a leitura desse seu texto era necessária!

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Mai 2Gostado por Vanessa Guedes

Essa edição contém tantos raciocínios interessantes que até fica difícil fazer um comentário à altura. No entanto, gostaria de expressar meu agradecimento, pois venho de um contexto onde é comum trabalhar em empregos menos valorizados. Eu já trabalhei como atendente de telemaketing, loja de shopping e, se necessário fosse, trabalharia novamente sem hesitação - e isso é vindo de alguém com diploma de graduação em Direito e cursando mestrado na USP. O ponto é que para quem começa na base, não se enxerga isso como o fim do mundo, mas sim como um ponto de partida digno que possibilitou muitas coisas, e voltar para ele pode fazer parte do percurso. A vida é muito complexa, mas o orgulho de classe pode atrapalhar muito.

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👏👏👏👏👏👏👏 é isso!

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Mai 2Gostado por Vanessa Guedes

Eu AMEI esse texto, mandando pra todo mundo aqui

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own obrigada!

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“Precisamos, antes de ser útil ao mundo, ser útil para nós mesmas.” o ponto exato!

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Mai 2Gostado por Vanessa Guedes

caramba, Vanessa, muito bom o tema do texto dessa semana! e o texto também, é claro. eu sempre me surpreendo com os caminhos que surgem quando você responde as perguntas que recebe. essa questão de trabalho, desemprego e vocação já foi muito mais frequente em mim quando eu comecei a fazer a transação jornalismo > contabilidade. como era relevante pro mundo ter um emprego LEGAL e pra mim, sinceramente, hoje não faz falta. raramente penso no assunto mais, mas também não esqueço do sofrimento do desemprego quando tentava achar um emprego "na medida". com a mudança de profissão comecei a conviver bem mais com pessoas que tiveram que se virar cedo na vida, com outras formas de ver o mundo do trabalho.

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bom saber da tua experiência. eu realmente acho que essa ideia do emprego legal, como vc disse, teve mesmo um papel meio tóxico quando a gente tava virando adulto.

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A vida adulta é um dos vários estelionatos sociais dessa desse mundo, junto do trabalho, casamento, filhos e toda tradição. É impossível não se identificar com essa angústia. O final do texto me lembrou algo como isso aqui "Ninguém salva ninguém, mas ninguém se salva sozinho".

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eu ia descambar esse texto chamando as pessoas pra se organizarem politicamente, mas achei melhor segurar pra um outro texto rs mas essa frase q vc botou aí resume!

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a verdade é que é difícil pra caramba ser adulto! e a gente, quando criança, fica sonhando com a chegada desse momento…

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Que texto maravilhoso! Quantas palavras bateram diretamente na minha cara. Por mais que eu tenha a perfeita consciência que trabalho e o tal do "propósito" não precisam andar juntos, ainda me pego tentando provar algo pra mim mesma, pra sociedade, sei lá pra quem mais. E isso só alimenta a falsa sensação de fracasso, ao tentar alcançar um objetivo que nem é meu, e sim de um sistema que me foi imposto. Uma reflexão necessária.

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Ainda não consegui parar e organizar em palavras o quanto esse texto mexeu comigo., mas amei e não queria deixar de dizer.

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Nossa, Vanessa... me idenfiquei em tantas camadas com esse texto e com seus perrengues vivendo sozinha, sem pedir ajuda a nenhum familiar, recusando a possibilidade de voltar pra casa, mesmo quando tudo indicava que esse era o caminho mais obvio.

Mais um texto brilhante e repleto de reflexoes preciosas. Obrigada por tanto.

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Me identifiquei tanto com esse texto.

Assim como a autora da pergunta, tenho lidado com esse sentimento de não saber o que é "ser adulto", ou se dou conta disso.

As suas respostas mexeram muito comigo, Vanessa, ajudando a refletir por outras perspectivas sobre temas que tenho tratado no acompanhamento psicológico.

Nos últimos meses, terminei um mestrado e completei 30 anos, e tenho andado às voltas com esses medos, dúvidas e sentimento de inadequação. Sinto que aos 30 eu já deveria ter a vida que sonhava na adolescência, com um bom emprego, casa própria, família (várias das bobagens que o neoliberalismo e a ficção empurraram em pessoas da mesma geração, mas que não deixam de angústias em momentos de fragilidade).

Também acho que não conseguirei algo "à altura" da minha formação ou desejo, ao mesmo tempo em que duvido da minha formação acadêmica/profissional, penso que talvez eu não seja "tão bom" assim. Assim como outra pessoa comentou aqui, também tem aquela questão de "performar" para os outros, achar que eu tenho que mostrar pro mundo que "dei certo" na vida com estabilidade profissional, um relacionamento amoroso, etc.

A velha mania de comparação com o outro que só serve para me encher de culpa e frustração.

Eu nunca passei por nenhuma situação de vulnerabilidade como as que você relatou, mas por outro lado convivi e convivo com pessoas com muito mais recursos do que eu. Então, ao mesmo tempo em que me comparo (e invejo) a vida deles, também me sinto culpado por não ter precisado ralar como você e outras tantas pessoas. Agora que a bolsa do mestrado acabou, o doutorado não é imediato, nem um emprego "dos sonhos", penso que talvez eu deveria ter um emprego "qualquer" pra ter o meu dinheiro e pagar as minhas contas sozinho. Mas também é difícil me livrar de uma certa empáfia e arrogância de uma classe média destronada, e também do sentimento de que não dou conta da vida, de engolir o orgulho e dar a cara a tapa.

Mas sigo tentando reverter esse cenário na minha cabeça, pensando um pouco menos e agindo muito mais rs

Enfim, não imagina que sairia um desabafo assim, e lamento o uso exagerado de aspas, mas tanto a pergunta quanto a sua resposta mexeram muito comigo, e senti vontade de escrever (a forma com que me sinto melhor para me expressar).

Ah, cheguei aqui pela newsletter da Bárbara Bom Ângelo, que sempre indica textos seus.

Um grande abraço!

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Esse texto me lembrou de que eu também já me senti totalmente perdida e sem rumo quanto ao meu futuro profissional. Felizmente eu sempre pude contar com os meus pais para me apoiar e sustentar nessas fases, mas é uma sensação desesperadora ser tão qualificada e não conseguir nenhum trabalho. Eu também tive uma experiência de morar fora e voltar, e achei que isso me abriria portas instantâneas, mas não foi bem assim. Para fazer um ano de graduação-sanduíche eu tive que abrir mão de um estágio na área que eu amava e nunca mais consegui me recolocar. Me senti um fracasso por ter aberto mão de algo mais ou menos certo (quem garante que eu seria efetivada?) por uma experiência que só me trouxe ganhos pessoais e nem tanto profissionais. Emendei a graduação numa pós que meu pai pagou muito a contragosto (e depois minha avó terminou de pagar, quando ele ficou desempregado) e que demorou, mas me deu a profissão que tenho hoje, de tradutora. Só que até eu conseguir um emprego formal na área, tive que espalhar cartazes pela universidade oferecendo serviços de texto e foi a revisão de monografias que me deu alguma autonomia e dignidade financeira; também passei uns meses fazendo doces para vender no espaço de cursos de arte onde minha mãe trabalhava e eu participava dos bazares mensais vendendo móbiles de origami e alguns livros da minha estante, além dos doces. E também tive ajuda dos amigos, que quando podiam me indicavam para freelas bem pagos. Teve uma vez que, por causa da minha experiência internacional, fui chamada para trabalhar numa feira de intercâmbios como intérprete por um dia inteiro, ganhei 200 reais. Me senti poderosíssima. O bilinguismo também me rendeu um emprego de atendimento ao público nos jogos olímpicos de 2016, que embora não tivesse nada a ver com texto, era o que tinha e eu aproveitei (descobri aí que detesto trabalhar com público rs). Me rendeu seis meses do maior salário que eu tinha tido até então (e maior do que o que eu vim a receber depois como tradutora numa empresa), mas é uma experiência esquisita no meu currículo, não serve pra nada, até confunde os recrutadores. Felizmente o emprego de tradutora veio, ainda que mal pago. Durou 4 anos e 10 meses e voltei a ser autônoma, mas aí eu já tinha mais experiência, networking e não foi tão difícil encontrar trabalhos que pagassem decentemente. Basta dizer que não tenho precisado vender doces pra fora. Mas apesar das dificuldades e do fracasso, eu adorava fazer brigadeiro toda semana rs, não é uma lembrança ruim. Eu concordo totalmente com você de que qualquer salário é melhor que nenhum salário, o dinheiro nos traz alguma confiança pra continuar buscando o trabalho dos sonhos, e às vezes abre portas para outras oportunidades que não tínhamos considerado ainda. A própria tradução foi uma rota alternativa, meu objetivo original era ser jornalista de segmento cultural. Mas a gente aprende a se adaptar, se não por vontade própria, por necessidade.

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